O filme é apresentado a 14 de novembro no Luxemburgo, no Festival de Cinema Português, e na presença do realizador.

Os prémios Sophia, os Óscares do cinema português, consideraram “O Último Banho” como o melhor filme português de 2021, à frente de finalistas como “Bem Bom”, “Sombra” e “Terra Nova”. Além de melhor filme, “O Último Banho” venceu nas categorias de Argumento Original e Direção Artística, tendo sido candidato a 13 prémios.

O filme conta a história do reencontro de uma freira obrigada a regressar à terra em que cresceu para tomar conta do sobrinho adolescente abandonado pela mãe. O argumento retrata um país onde a religião condiciona o comportamento das personagens. A protagonista é Josefina, uma mulher que está prestes a fazer os votos para se tornar freira, e que descobrimos no retorno à aldeia natal, para participar no funeral do pai. A personagem principal reencontra o sobrinho que, com a morte do avô, não tem quem cuide dele. Assim, Josefina é forçada a “adotar” o sobrinho e a aceitar o desafio de educar um adolescente.

A produção de David Boneville teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Tóquio, passando depois por inúmeros festivais de São Paulo a Gotemburgo, ou de Chipre a Kiev, onde tive a oportunidade de conversar com Bonneville sobre a sua primeira longa metragem. Sendo um filme sobre tentações, “O Último Banho” trata uma temática complexa com alusões bíblicas, colocando as personagens em situações intrincadas e emocionalmente difíceis. O realizador opta por um argumento minimalista.

Talvez, por causa das filmagens no vale do Douro, fique a impressão de que a obra de David Bonneville tem algo de Manoel de Oliveira. Além do local, o ritmo também pode lembrar o mestre, o que não é surpreendente já que Bonneville começou a carreira a trabalhar em produções de Oliveira.

Bonneville diz que, à medida que o projeto avançou, o argumento foi sendo reduzido, o que acabou por dar às suas personagens mais mistério e sugestão. Segundo o realizador, esta abordagem deixa o espectador refletir por si próprio, e assume que prefere dar espaço ao público para pensar, imaginar ou projetar na narrativa as suas próprias vivências.

Para interpretar a personagem principal, Anabela Moreira foi viver alguns dias com irmãs dominicanas num convento em Lisboa. “Acompanhei uma irmã que ainda não tinha concretizado os votos, uma noviça, que teve a amabilidade de partilhar os seus dias comigo. Durante esses dias cumpria os mesmos rituais que elas, com isto já me encarando como Josefina, e foi então que descobri um interesse nesta procura, o de amar ou casar por este amor universal, esta perfeição de amor que é o amor por Deus”, declarou a atriz que surpreende pela exatidão da interpretação, que mereceu um Globo de Ouro.

“O Último Banho” é apresentado dia 14 de novembro no Luxemburgo, no âmbito do Festival de Cinema Português, e na presença do realizador, estando depois programado na salas Cinextdoor (Echternach, Diekirch, etc.) através do Cineclube Português.

“O Último Banho”, de David Bonneville, com Anabela Moreira, Martim Canavarro, Margarida Moreira, Rodrigo Santos, Miguel Guilherme, José Manuel Mendes, Ângelo Torres, Afonso Santos e Filomena Gigante.