A série belgo-luxemburguesa “Coyotes”, que acaba de chegar á Netflix, merecia menção pelo simples facto de contar com dois artistas luso-luxemburgueses: Magaly Teixeira e Nilton Martins. A atriz e fadista foi inclusivamente nomeada para os Filmpräis, os Óscares luxemburgueses.

O elenco de “Coyotes” é extremamente jovem, com bastantes esperanças do cinema belga. O destaque vai para Louka Minnelli, conhecido pelo sua participação em “La Fille Inconnue”, um filme dos irmãos Dardenne, assim como Victoria Bluck, que participou noutra produção dos irmãos realizadores belgas, “Le Jeune Ahmed”.

O público europeu, sobretudo os mais cinéfilos, podem conhecer o cinema da Bélgica, mas as séries deste país são raras nas plataformas de streaming. Será que há um estilo belga de fazer séries? Talvez. E pode caracterizar-se pelas atmosferas sombrias, ambientes intrigantes e, muitas vezes, fascinantes.

Este thriller de estilo bastante belga merece ser visto, apesar de deixar muitas vezes a impressão de que foi feito a pensar num público juvenil. “Coyotes” transporta-nos até um acampamento de jovens escuteiros belgas, para descobrir a patrulha dos coiotes.

A ação decorre no verão, iniciando-se no momento em que os escutas se instalam junto a um castelo para celebrarem a vida ao ar livre e realizar atividades de todos os tipos: jogos, caminhadas, desafios de orientação, etc.

A descoberta de um saco de diamantes vai revolucionar o verão dos jovens “coiotes”. Inicia-se uma aventura que vai por à prova as relações entre os jovens. Os jovens encontram-se perante uma situação que claramente os ultrapassa e que não conseguem controlar.

O elenco é de qualidade – ou não fosse integrar amigos meus – mas “Coyotes” tem outras virtudes. As imagens de Gary Seghers e Jacques Molitor definem o drama e ajudam muito a criar um estranho e inquietante ambiente. A banda sonora de Daniel Offermann cria um cenário sonoro bem adaptado aos passeios épicos desta improvável equipa de adolescentes.

Se inicialmente “Coyotes” debita uma estranha visão do escutismo, a forma como vai mostrando a dinâmica do grupo de jovens é essencial para explicar o que se segue.

Cada um dos protagonistas vai construir sonhos com a perspetiva do dinheiro que os diamantes lhes podem trazer, mas o entusiasmo e a ingenuidade dos adolescentes vai esbarrar na dura realidade dos adultos.

A personagem central, interpretada por Louka Minnella, é um rapaz duro, independente e com uma vida difícil. Um tipo solitário que, no início, viaja muito entre Marie, os seus perseguidores e os amigos escuteiros. Magaly Teixeira é a mulher forte Dona, que se dedica a atividades pouco legais e que a jovem portuguesa interpreta com acerto. O segundo lusodescendente da série, Nilton Martins, interpreta Angelo, um rapaz com deficiência que se adapta bem à grande capacidade que tem este ator para criar personagens extremas e difíceis.

A série é constituída por episódios cuja brevidade torna impossível transmitir a complexidade que poderiam ter certos personagens. Este é apenas um dos problemas desta série que parece muitas vezes não se decidir. Por vezes é cinzento, sombria e um verdadeiro thriller, mas de quando em vez salta para o registo de comédia ligeira. Esta mistura é difícil de conseguir – ocorrem sempre os exemplos da cinematografia dos irmãos Coen – mas “Coyotes” está infelizmente muito longe dessa bitola.

A série criada por Axel du Bus de Warnaffe, Vincent Lavachery e Anne-Lise Morin vale pelo excelente elenco e pelo facto de ter sido rodada aqui, à nossa porta, em Ettelbruck, Arlon e muitas outras localidades que vamos reconhecer.

“Coyotes” de Jacques Molitor e Gary Seghers, com Louka Minnella, Kassim Meesters, Sarah Ber, Anas El Marcouchi, Tessa Balzano, Léo Hainaut, Magaly Teixeira e Nilton Martins.

Raúl Reis